sábado, 22 de junho de 2013

EUA e Reino Unido monitoram ‘de perto’ as manifestações


WASHINGTON e LONDRES — As manifestações sociais e a escalada da violência dos protestos que já duram dias começam a preocupar os governos de outros países, que, discretamente, demonstram inquietação. A Casa Branca está “monitorando de perto” a onda de protestos no Brasil, por meio de seu Departamento de Estado, e o Foreign Office (ministério das relações exteriores britânico) afirmou que “o Reino Unido apoia o direito de protestar pacificamente e está monitorando de perto a situação”.

A avaliação de funcionários de alto escalão do governo dos EUA, que estão desenhando o cenário para a equipe do presidente Barack Obama, é que os protestos, por serem majoritariamente pacíficos e reconhecidos como legítimos pela presidente Dilma Rousseff, expressam, por ora, apenas o “caráter vibrante” da democracia brasileira. Nos círculos políticos da capital americana, já se especula os efeitos do descontentamento social nas eleições de 2014.

— Liberdade de expressão e de reunião são elementos vitais de qualquer democracia vibrante. Protestos pacíficos são maneiras legítimas de apresentar demandas e o governo brasileiro expressou apoio ao direito dos brasileiros de realizá-los. 

Temos uma forte parceria com o Brasil e buscamos aprofundar esta parceria, em uma gama de assuntos que suscitam a preocupação global — afirmou ao GLOBO um graduado funcionário do governo Obama.

Nas conversas, a administração demonstrou cuidado para afastar qualquer caracterização dos eventos como uma crise política.

— Manifestações pacíficas são o que a democracia representa: cidadãos expressando suas visões e engajando os líderes do governo em assuntos que lhes interessam — disse ao GLOBO um funcionário do Departamento de Estado.

Nas reuniões do Conselho de Segurança Nacional, os funcionários que acompanham o Brasil e os demais países latinoamericanos tentam contextualizar as manifestações, que, como nos meios brasileiros, não foram antecipadas. O tema poderá entrar nos briefings diários a Obama, atualmente dominados por temas como Síria, Irã e turbulências domésticas, por ser um “fenômeno importante nas Américas”.

A comparação do movimento brasileiro com o ocorrido na Turquia é rejeitada. Apesar de a classe média ser o motor dos dois protestos, avalia-se que em Istambul predomina o elemento cultural, enquanto no Brasil, a pressão por mudanças em políticas públicas. As posturas de Dilma e do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, também são diferentes.

A embaixada dos EUA emitiu alertas nos dias 18 e 20 de junho, em seu site e nas redes sociais, aos cidadãos que pretendem viajar ao Brasil para a Copa das Confederações, recomendando atenção aos protestos nas cidades brasileiras, destacando São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Belo Horizonte, e Porto Alegre.

Já a mídia britânica tenta entender os motivos e as consequências para o país da Copa e das Olimpíadas. As cenas de violência nas capitais brasileiras têm ocupado lugar de destaque no noticiário britânico, que já vê incertezas para o futuro dos investimentos no país.

De acordo com o editorial do “Independent”, “o Brasil não é o único país dos BRICS a experimentar reveses na economia ou a ter um governo que não consegue atender as expectativas, que crescem num ritmo cada vez mais acelerado, da população”. O editorial diz que ainda que as turbulências sociais não foram bem o efeito que se esperaria para a primeira vez que os grandes eventos esportivos chegariam à América Latina. Mas não descarta que o Brasil fará tudo certo no final das contas.

No diário “The Guardian”, o colunista Simon Jenkins afirma que os brasileiros estão fazendo o que os britânicos não tiveram coragem de fazer durante os preparativos das Olimpíadas. “Parabéns aos brasileiros por dizer o que o Reino Unido no ano passado não teve coragem: que algumas vezes, há um limite. Se eu fosse o Blatter e seus assistentes, eu deixaria a cidade depressa”, diz.

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